A oposição política guineense obrigada a uma agenda robusta, própria 𝗲 não imposta ou manipulada.


Lassana Cassama
Jornalista Guine Bissau
O registo de atuação da oposição política guineense face ao atual poder POLÍTICO-MILITAR, na minha modéstia opinião, está ferido de inteligência e muita distração. Não é que faltaram oportunidades para fazer vincar a sua vontade e agenda política (se é que existem), até porque estamos perante mais uma [oportunidade]. O certo é que, independentemente, da carência de interesse coletivo (salvo a dinâmica das últimas semanas), a falta de determinação, consistência e entrega factual por parte de algumas lideranças pela causa da democracia e estado de direito, tem enfraquecido a luta da oposição política guineense, não obstante ter à sua disposição a legitimidade e estruturas teóricas e políticas de a fazer. Sem querer afirmar, em absoluto, que há uma inconstância em certas lideranças políticas, o que não tem ajudado na definição e defesa das suas próprias agendas prioritárias, o poder atual, na pessoa do seu “Comandante em Chefe”, tem demonstrado uma capacidade e perspicácia extraordinária em manipular e impor as suas agendas para o debate público, isto é, em função das circunstâncias, dos seus interesses ou desinteresses. Um dos exemplos mais recentes é o inteligente afastamento do debate público da apreensão da aeronave com cerca de 3 mil quilogramas de droga no aeroporto de Bissau. Hoje, o debate que nos foi vendido e compramos facilmente, como sempre, tem a ver, não só com a interrupção do processo de eleições, em plena campanha eleitoral, mas, sim, com a perspetiva da formação de um Governo de Unidade Nacional, onde, com certeza, muitos esperam participar, o que, se acontecer, irá afrouxar a atual dinâmica da oposição guineense. Esta tática, sustentada, outrossim, com a teoria de que o HOMEM guineense se compra com o DINHEIRO E CARGO tem funcionado a favor do presente regime POLÍTICO-MILITAR. Portanto, não creio que desta vez será diferente. Eh pá! Gostaria muito de estar errado, mas receio que não. Pois, pelo que temos assistido, diríamos que há uma manipulação, e de forma estratégica, da agenda da oposição guineense, baseada na pobre narrativa sobre o jogo da esperteza e da inteligência agremiada com feito militar. Ou seja, o empreendedorismo político guineense, envolvendo o poder e a oposição, leva-nos a concordar que, contrariamente ao que temos ouvido de alguma figura pública, que joga muito na ESPERTEZA e não na INTELIGÊNCIA, a ESPERTEZA tem levado melhor face a ausência da necessária INTELIGÊNCIA da própria oposição guineense. Porque se não, como é que se explica o sistemático metamorfismo nos debates públicos?!
Portanto, é o nosso entendimento que uma agenda própria, robusta e objetiva da oposição política guineense, que não deve ser vista só numa perspetiva de pressão para alguma mudança (seja lá qual for), é obrigatória e necessária, porquanto seria uma contribuição enorme para o debate público, visando fortalecer o nosso sistema DEMOCRÁTICO (se é que ainda vale a pena).
Bissau, 18 de novembro de 2024.