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Sou a favor de eleições como base da legalidade e legitimidade democráticas.

Lassana Cassama

Jornalista Guine Bissau

Sou a favor de eleições como base da legalidade e legitimidade democráticas.

A falência, ou a ausência de convicções políticas e ideológicas de uma boa parte dos homens políticos guineenses e de outros sectores da vida pública nacional, não têm ajudado a democracia guineense. Uma democracia, onde existem ainda os que defendem que as “eleições não são soluções para os problemas da Guiné-Bissau”, disfarçando, assim, as suas insolvências de cultura democrática. É verdade, sim, que as eleições, per si, não resolvem os problemas de um país, quanto mais os enormes da Guiné-Bissau. Mas, é bom que sejamos sérios e dizer que, são através delas [eleições] que fazemos escolhas dos melhores projectos políticos e sociais concorrentes, visando resolver os nossos problemas, além de serem a forte base da legalidade e legitimidade de qualquer que seja o sistema democrático. Assim acontecem em Angola, Moçambique, Cabo-verde, São Tomé e Príncipe, no Senegal, na Gâmbia, e tantos outros países que não estão em regimes militares transitórios.

Portanto, se assim é, mesmo se é por conta de desespero ou frustrações que as eleições nos têm trazido, devemos dizer “sim as eleições” e conformar as nossas actitudes aos princípios democráticos, e cessar, de vez, com estas jogadas de pouca vergonha de GOVERNOS de TRANSIÇÃO, suavizados com o catálogo de GOVERNOS da INICIATIVA PRESIDENCIAL, a menos que sejamos claros em assumir que estamos perante um REGIME PURAMENTE MILITAR. Caso contrário, as eleições têm que acontecer periodicamente, conforme as normas estabelecidas pela lei, descartando o vício de GOVERNOS DE TODOS, baseando nos pactos extra constitucionais. Ou seja, não é que estamos a censurar os pactos ou acordos políticos, até porque são aceitáveis nas democracias genuínas, desde que aconteçam dentro de um quadro normativo.

Ademais, é o nosso entendimento que qualquer acordo ou pacto político deve ser assente nos princípios democráticos e do Estado de Direito, na defesa dos interesses do povo e consubstanciados nas ideologias político-partidárias, e não no pedir e dividir de pastas governamentais, com único objectivo de roubar o que é nosso. As tais conhecidas “pastas gordas” (um dia falarei disso).

Bissau, 04 de novembro de 2024

LC

A oposição política guineense obrigada a uma agenda robusta, própria 𝗲 não imposta ou manipulada.

Lassana Cassama

Jornalista Guine Bissau

A oposição política guineense obrigada a uma agenda robusta, própria 𝗲 não imposta ou manipulada.

O registo de atuação da oposição política guineense face ao atual poder POLÍTICO-MILITAR, na minha modéstia opinião, está ferido de inteligência e muita distração. Não é que faltaram oportunidades para fazer vincar a sua vontade e agenda política (se é que existem), até porque estamos perante mais uma [oportunidade]. O certo é que, independentemente, da carência de interesse coletivo (salvo a dinâmica das últimas semanas), a falta de determinação, consistência e entrega factual por parte de algumas lideranças pela causa da democracia e estado de direito, tem enfraquecido a luta da oposição política guineense, não obstante ter à sua disposição a legitimidade e estruturas teóricas e políticas de a fazer. Sem querer afirmar, em absoluto, que há uma inconstância em certas lideranças políticas, o que não tem ajudado na definição e defesa das suas próprias agendas prioritárias, o poder atual, na pessoa do seu “Comandante em Chefe”, tem demonstrado uma capacidade e perspicácia extraordinária em manipular e impor as suas agendas para o debate público, isto é, em função das circunstâncias, dos seus interesses ou desinteresses. Um dos exemplos mais recentes é o inteligente afastamento do debate público da apreensão da aeronave com cerca de 3 mil quilogramas de droga no aeroporto de Bissau. Hoje, o debate que nos foi vendido e compramos facilmente, como sempre, tem a ver, não só com a interrupção do processo de eleições, em plena campanha eleitoral, mas, sim, com a perspetiva da formação de um Governo de Unidade Nacional, onde, com certeza, muitos esperam participar, o que, se acontecer, irá afrouxar a atual dinâmica da oposição guineense. Esta tática, sustentada, outrossim, com a teoria de que o HOMEM guineense se compra com o DINHEIRO E CARGO tem funcionado a favor do presente regime POLÍTICO-MILITAR. Portanto, não creio que desta vez será diferente. Eh pá! Gostaria muito de estar errado, mas receio que não. Pois, pelo que temos assistido, diríamos que há uma manipulação, e de forma estratégica, da agenda da oposição guineense, baseada na pobre narrativa sobre o jogo da esperteza e da inteligência agremiada com feito militar. Ou seja, o empreendedorismo político guineense, envolvendo o poder e a oposição, leva-nos a concordar que, contrariamente ao que temos ouvido de alguma figura pública, que joga muito na ESPERTEZA e não na INTELIGÊNCIA, a ESPERTEZA tem levado melhor face a ausência da necessária INTELIGÊNCIA da própria oposição guineense. Porque se não, como é que se explica o sistemático metamorfismo nos debates públicos?!

Portanto, é o nosso entendimento que uma agenda própria, robusta e objetiva da oposição política guineense, que não deve ser vista só numa perspetiva de pressão para alguma mudança (seja lá qual for), é obrigatória e necessária, porquanto seria uma contribuição enorme para o debate público, visando fortalecer o nosso sistema DEMOCRÁTICO (se é que ainda vale a pena).

Bissau, 18 de novembro de 2024.