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Contingente militar afirma ter assumido controlo das forças armadas no Madagáscar

Contingente militar afirma ter assumido controlo das forças armadas no Madagáscar

Um contingente do exército malgaxe afirmou hoje ter assumido o controlo das forças armadas do Madagáscar, depois de na véspera se ter juntado aos manifestantes antigovernamentais e de ter apelado às forças de segurança para “recusarem as ordens”.

“De agora em diante, todas as ordens do exército malgaxe, sejam terrestres, aéreas ou navais, partirão do quartel-general do CAPSAT (Corpo do Exército de Pessoal e Serviços Administrativos e Técnicos)”, anunciaram oficiais desse contingente numa declaração em vídeo.

Em 2009, esta base, situada na periferia da capital malgaxe, já tinha liderado uma rebelião durante o levantamento popular que levou ao poder o atual Presidente Andry Rajoelina.

Uma nova manifestação está prevista para a manhã de hoje na capital, Antananarivo, enquanto decorre a cerimónia fúnebre de um soldado morto durante um protesto no dia anterior.

A manifestação de sábado em Antananarivo foi uma das maiores desde o início da contestação, a 25 de setembro, iniciada pelo movimento ‘Gen Z’ (jovens nascidos entre 1997 e 2012), para protestar contra os cortes de água e de eletricidade, e que se transformou numa contestação mais ampla aos responsáveis políticos no poder, a começar pelo Presidente Andry Rajoelina.

Rajoelina declarou então estar em curso uma "tentativa ilegal e forçada de tomada do poder", um dia após o contingente de soldados se reunir ao lado de milhares de manifestantes antigovernamentais em Antananarivo.

"A Presidência da República deseja informar a nação e a comunidade internacional que está em andamento em território nacional uma tentativa ilegal e forçada de tomada do poder, contrária à Constituição e aos princípios democráticos ", afirmou Rajoelina, num comunicado.

No sábado, soldados malgaxes juntaram-se a milhares de manifestantes nas ruas de Antananarivo, apelando às forças de segurança para “recusarem ordens de disparar” sobre a população e condenando a recente repressão policial.

Antes de abandonarem a sua base militar no distrito de Soanierana, nos arredores de Antananarivo, os soldados do CAPSAT apelaram à desobediência.

A manifestação de sábado em Antananarivo foi uma das maiores desde o início dos protestos, a 25 de setembro, desencadeados pelo movimento ‘Gen Z’, em contestação aos cortes de água e de eletricidade, que evoluíram para uma crítica generalizada aos responsáveis políticos no poder, a começar por Rajoelina.

Os soldados enfrentaram elementos da ‘gendarmaria’ em frente a um quartel e entraram na cidade a bordo de veículos militares para se juntarem aos manifestantes na simbólica Praça 13 de Maio, diante da Câmara Municipal de Antananarivo, onde foram recebidos com aplausos e apelos à demissão de Rajoelina.

Na noite de sábado, o novo primeiro-ministro, Ruphin Zafisambo, assegurou que o Governo, “que se mantém firmemente”,  está “pronto para colaborar e ouvir todas as forças: os jovens, os sindicatos e o exército”.

“Madagáscar não poderá resistir a novas crises se esta divisão entre os cidadãos persistir”, acrescentou o general Zafisambo num breve discurso gravado.

De acordo com um balanço das Nações Unidas, pelo menos 22 pessoas foram mortas desde o início das manifestações e mais de uma centena ficaram feridas.

Rajoelina desmentiu na quarta-feira esses “números errados”, estimando as “perdas de vidas” em 12, todas “de saqueadores, de vândalos”, segundo afirmou.

O Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, apelou na sexta-feira às autoridades de Madagáscar para "cessarem o recurso a uma força desnecessária" nos protestos, que já causaram várias mortes.

Apesar das riquezas naturais, Madagáscar continua a ser um dos países mais pobres do mundo e quase 75% da população vivia abaixo do limiar da pobreza em 2022, segundo o Banco Mundial.

Com Lusa 

 

 

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