J?lio Jos? Dias, um dos primeiros caboverdianos a estudar na Sorbonne
" bout de soufle" (sem flego): Um emblemtico filme francs que agrupa a era dos anos 60, considerado como uma "nova vaga" para o cinema francs. O que no imaginava que esse filme poderia, tambm, fazer parte e, qui, mudar o percurso da minha vida.
J que estamos a falar de histria, conto-vos um "pedacinho" da minha. Estvamos em 2016 quando vi, por acaso, esta narrativa cinematogrfica francesa. Trata-se da histria de Patrcia, uma "new-yorkaise" que partiu para Paris com o objetivo de estudar na Sorbonne. Para chegar ao seu fim, esta americana vendia o jornal "New York HeraldTribune" em pleno "Champs dElyses", uma prestigiada avenida de Paris (Frana). No fundo, este filme, do tempo do cinema a preto e branco, retrata uma histria de amor e tragdia. Mas, o relevante nisto tudo que foi desta forma que ouvi falar, pela primeira, vez da Sorbonne, uma das universidades mais renomadas de Frana e do mundo. Na altura, vivia eu em Portugal. Logo aps o final do filme, comecei a fazer uma enxurrada de pesquisas no Google, com o intuito de saber como chegar Sorbonne. E assim foi!
A pergunta que grita: Quem toma uma deciso to importante baseando-se apenas na histria de um filme? Como diriam os franceses, s uma "rveuse", mas eu diria, sobretudo uma cabo-verdiana. Mas isso apenas umas das histrias pitorescas da minha vida. Mas querem que vos diga? O caboverdiano entrega-se de corpo e alma a todas as aventuras da vida. o caso de Jlio Jos Dias (1805-1873). Cronologicamente, o primeiro mdico cabo-verdiano, mas tambm o indivduo que, teoricamente, introduziu a Sorbonne na histria dos estudantes caboverdianos. Estvamos na primeira metade do sculo XIX quando o seu pai o enviou para Frana para estudar medicina na Sorbonne, em Paris. Dias era um rico proprietrio, pelo que, de regresso terra natal, passou a exercer de forma gratuita a profisso de mdico, em So Nicolau. Entre outros, esse feito mereceu-lhe o reconhecimento do povo, obtendo assim um grande prestgio.
J vos dizia, o caboverdiano gente a quem os sonhos tm asas. Gente que sonha grande, mas tambm gente "viciada" no que da gente "nos terra nos cretcheu". Ainda assim, gente que, de lgrimas nos olhos e com um adeus magoado, deixa a terra natal em busca dos sonhos e conhecimentos para engrandecer o seu Cabo Verde. Gente de sangue quente e de corao sonhador. Gente que vai onde os sonhos o leva. Gente sem medo de "labuta". Mas os sonhos tambm magoam, no mesmo? O caboverdiano sai para um destino longnquo j a pensar no seu regresso. E na hora da dor de "sodadi", a gente chora ao som da msica de Beto Dias: "At um dia se Deus quiser".
Como tantos outros, Jlio Jos Dias honrou o regresso e engrandeceu a sua terra natal! Conquistou na Sorbonne uma das maiores riquezas que podemos ter - o conhecimento. E cumpriu-o por Cabo Verde! o nosso grito. O grito de alma do cabo-verdiano. Sair por Cabo Verde e regressar por Cabo Verde!
O reconhecimento do povo de So Nicolau valeu ao Jlio Jos Dias um busto inaugurado em 1884, (pago por subscrio pblica), no terreiro do Centro Histrico de Ribeira Brava. Local este, que j tenho na minha "lista de desejos" de lugares a visitar, em Cabo Verde.
Crnica de Ftima Fernandes
Crioula, residente em Paris, Frana @fatima_fernandes_8 no Instagram