Nha Ana Proc?pio, a mais afamada cantadeira de Djarfogo, no g?nero de Kurkutisan ou Rafodjo
A jornalista cultural Matilde Dias, atualmente coordenadora e apresentadora do programa "Revista" - o magazine cultural da TCV, criou em 2004 o blog "Lantuna" e que manteve ativo at 2007. Durante esse tempo a jornalista trouxe investigaes interessantes da cultura caboverdiana. E fomos buscar a estria de Ana Procpio, figura impar do folclore da ilha do Fogo.
Texto de Matilde Dias, com Artiletra, publicada em abril de 2004
Amor di Branku txuba na mar
Amor di negu lesti na rotxa
Amor di mulatu nba detadi
Nascida no dia 22 de abril de 1886, Ana Procpio, a mais afamada cantadeira da ilha do Fogo, no gnero de Kurkutisan ou Rafodjo. Em Dezembro de 1960, o jornalista Flix Monteiro publicava, na Revista Claridade, o artigo Cantigas de Ana Procpio. H 45 anos, este extraordinrio investigador cultural publicava o registo mais completo, que se conhece, sobre a grande cantadeira de Djarfogo, falecida a 30 de Maio de 1957. Quem me deu a notcia da sua morte, fez o seguinte comentrio, bem significativo: cantar, h muita gente que canta; mas cantadeiraera Ana Procpio, escreveu Flix Monteiro.
De facto, Ana Procpio fez histria, como expoente do Kurkutisan, um gnero musical tpico do Fogo, tambm apelidado de Rafodjo ou Rodriga. So cantigas improvisadas em bailes populares. Segundo Dany Spnola, uma cantiga de desafio, de contenda verbal e de esperteza, em que dois cantadores se injuriam mutuamente, de forma jocosa, usando uma linguagem mordaz e obscena, por vezes, com inteno ofensiva e maldizente. Muitas vezes, utilizada para satirizar os grandes senhores proprietrios de terras ou mesmo a sociedade em geral, caricaturando aspectos imorais das pessoas ou o desregramento social. Mas segundo Feliz Monteiro, o amor e a alegria foram temas predilectos de Ana Procpio.
Na verdade, viveu e amou apaixonadamente, com os cinco sentidos. Nha Ana tinha conscincia da sua beleza e do seu poder de seduo, como evidenciam os versos - Ken ki purb ka neg, Ken ki neg torna djob.
Mulher de muitos amores, e que usou seu livre-arbtrio de forma orgulhosa, Ana Procpio sempre foi alvo das linguaradas, a quem detestava profundamente.
Lngua di mundu, Si N panha-bu
Nim ka bonitu, kuzidu fritu
Algun katx -l kum-N b
Algum dia, Cabo Verde h-de prestar-lhe uma merecida homenagem. Que tal uma obra que rena as suas cantigas, espalhadas por vrias bibliotecas particulares. O Jornal Artiletra j mostrou o caminho, com a edio de um nmero exclusivo sobre a cantadeira, em 2003.